Por que deveríamos parar de usar o Word

Problema com formatos rtf e docx

Uns tempos atrás, precisei lidar com arquivos de texto grandes. 

Muito grandes

Para se ter uma ideia, um desses arquivos, que continha todo o Corpus Aristotelicum, tinha mais de 6 milhões de caracteres (equivalente a mais de 1 milhão de palavras) e "pesava" mais de 19 MB em formato txt - ou seja, sem qualquer tipo de formatação e sem nenhuma imagem. 

Programas como o Microsoft Word não são sequer capazes de abrir um arquivo tão grande. Nem o são programas como Open Office, Libre Office & semelhantes. Não me entendam mal: são programas úteis, mas tem uma falha fundamental: eles operam a partir do princípio WYSIWYG (what you see is what you get). Ou seja, são programas que gastam uma quantidade enorme de recursos — e que ocupam constantemente o usuário — com a tarefa de formatar e cuidar da aparência do texto. 

Os principais problemas gerados por essa abordagem são dois:

  1. Em primeiro lugar, a tentativa de ter-se um software capaz de fazer absolutamente tudo — desde oferecer ao usuário um local para capturar o texto até compilar o produto final — resulta em programas com alta demanda de recursos, propensos a toda sorte de problemas e a fecharem abruptamente por algum erro fatal ou pelo esgotamento da capacidade de processamento da máquina.

  1. Em segundo lugar, há uma demanda sendo constantemente imposta aos usuários de se ocuparem de tarefas cosméticas de formatação que estão fadadas a serem repetidas inúmeras vezes até o produto final ser alcançado. É verdade que com um pouco de treinamento no uso dos estilos e dos templates essa tarefa pode ser mitigada, mas mesmo aqueles de nós que dominam a ferramenta perdem um tempo considerável lutando contra tabelas mal posicionadas, notas de rodapé fora do lugar, espaçamento disforme, estilos mal aplicados, enfim. Quando se concerta um problema, cria-se outros dois.

A despeito de tudo isso, o poder de empresas como a Microsoft é tão grande que muitos de nós na academia e fora dela não conseguimos seque conceber a possibilidade de escrever utilizando alguma ferramenta diferente do Microsoft Word. Quando muito, utiliza-se a versão gratuita de código aberto que tenta ao máximo imitar o modelo da versão paga. Optar pelo software livre é uma excelente ideia, claro, mas como espero ter deixado claro, não é esse o problema real. Não há sentido em mudar para a versão gratuita de código aberto de um modelo fracassado de software.

Mas se o não no Word, então onde escrever? E como?

Escreva em Markdown

Markdown é uma marcação simples criada em 2004 por John Gruber e Aaron Swartz para possibilitar a conversão do texto plano — limpo, legível e não tumultuado —  em html (hypertext markup language)a principal marcação utilizada na internet, entendida por todos os navegadores. O que começou como uma linguagem extremamente simples (até mesmo anêmica, diriam alguns) evoluiu para uma linguagem com um bom conjunto de funcionalidades, capazes de satisfazer todas as necessidades do mundo científico e acadêmico.

Além disso, markdown tornou-se uma linguagem extremamente popular e facilmente conversível em documentos acabados com a mais alta qualidade tipográfica utilizando programas como o pandoc, que são capazes de fazer a conversão via LaTeX/XeLaTeX. Ou seja, escrevendo em markdown, que é um formato de texto plano, é possível obter um produto acabado em formatos como docx, latex, pdf, epub, mobi, textile. Inclusive, é mais fácil produzir um PDF de excelente qualidade seguindo as normas da ABNT a partir de um texto plano escrito em Markdown do que utilizando o Microsoft Word. 

Mas como formatar um texto usando markdown? É simples, brutalmente simples. Eis as…

Regras de marcação


Títulos de seções são marcados com #

# Título
## Subtítulo
### Subsubtítulo
#### Etc...

Citações são indicadas pelo maior `>`.

> Citação de um trecho de um texto.

Notas de rodapé pode ser feitas de algumas maneiras diferentes.
Texto[^texto da nota de rodapé].

Texto[^1]

[^1]: Texto da nota de rodapé.

Itálico e negrito são marcados com *.